E de novo aparece Em frente ao computador, o ventilador da máquina, constante, uniforme e rápido. Um toque de telefone aqui, estridente, alto e amarelo. Cliques desconexos, sem ritmo, em ritmo, rápidos e lentos. Hoje, incrivelmente, faz silêncio. Há passos na outra extremidade da sala. Longe. Diminuindo. Ritmados. Duas vozes conversando. Não combinam, apenas se respeitam, quando um fala, o outro faz silêncio. Na frente da tela em branco eu não rendo. Os cliques são lentos, fundos e demorados. Afasto a cadeira, levanto e parto. Ouso, ritmado e preto, O som de meu sapato. Aperto para subir, sem sinal de barulho. Espero sozinho e um sinal me da um susto. Arranha o metal quando a porta abre. Um zunido lá dentro que não para. O segundo ventilador, menos rápido e mais potente. Sem sinal de barulho, aperto o sete. Um sinal me dá um susto quando esperava sozinho. Quando a porta abre, o metal arranha. Lá de dentro, o zunido para. Deixo pra trás o segundo ventilador, mais lento e menos fraco. Essa altura não me agrada então procuro a escada. A porta geme a dor de nunca ser usada. Degrau por degrau, uma bateria deitada. Cada passo um compasso. Cada compasso uma respirada. A porta agora deve ser muito requisitada. Reclamou a dor de ser sempre empurrada. Aqui em cima não me escuto. Minha bala, que lá embaixo eu ouvia ser mastigada, fica silenciada mediante o contato com o vento. Apoio cabeça e mãos no para-peito. Buzinas arrastadas, motores, pessoas sem banda sonora. Brecadas, músicas altas, só batidas e levadas, sem cantores. Algo próximo ao meu ouvido se manifesta. Este não faz parte da orquestra. Se cala. Se dura um segundo é muito. Não deve ser nada. E de novo aparece. Um som rápido, baixo e diferente. Eu fico imóvel e aguardo. E de novo aparece. Dessa vez eu conto. Um, Dezoito, dezenove, vinte. E de novo aparece. Um, Dezoito, dezenove, vinte. E de novo aparece. Há sempre um ritmo, um tempo. E de novo aparece. Alguém abre a porta. Fala boa tarde. E de novo aparece. Eu respondo o mesmo. Ela puxa um cigarro. E de novo aparece. Pega o isqueiro. E de novo aparece. Puxa, traga e expele. E de novo aparece. Eu me afasto, dou uns passos. Silêncio. Acabou se o ritmo. Eu paro em pé. Fico imóvel. A do cigarro dá um gemido, se despede da bituca, abre a porta e me esquece. E nada acontece. (em algum mês de 2008)
terça-feira, 8 de setembro de 2009
E de novo aparece
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Descrição fantástica. As cores são ótimas.
ResponderExcluirE dizem que descrever a arte dos momentos é um dom, não?
Parabéns!